O que esperar para o segundo semestre de 2024?

25/06/2024 07:28:59

5 min e 4 segundos

No início da primeira metade do ano, talvez de forma muito pretenciosa, o mercado projetava cortes da taxa básica de juros americana ainda para a primeira metade do ano, alguns mais otimistas até mesmo entre o primeiro e segundo trimestre, pois para estes era crível que a desinflação estava ocorrendo e seguiria assim de maneira linear e sem solavancos. Porém o cenário se alterou com os fortes dados do mercado de trabalho da maior economia mundial e com os dados de inflação do mesmo primeiro trimestre que não demonstraram que o processo desinflacionário não ocorreria da maneira esperada.

Passada essa fase, e com o cenário que temos hoje de um juros que deve permanecer elevado por mais tempo do que se esperava, o mercado trabalha com as seguintes hipóteses: (i) desinflação e redução de atividade econômica ocorrendo de maneira linear frente ao patamar atual de juros com dois cortes de juros ainda para o final de 2024; (ii) desinflação ocorrendo porém atividade econômica sem significativas alterações de dados com um corte de juros esperado para dezembro; (iii) processo de desinflação ainda passando por alguns obstáculos ao longo do restante do ano e atividade econômica bem resiliente com corte de juros apenas para 2025.

Independente das hipóteses acima traçadas, pelo fato da economia americana contar com uma taxa de juros significativamente elevada por mais tempo, é natural o fluxo financeiro global se mova em direção a américa para a pertinente captura do prêmio existente, na medida que o mercado de renda fixa americano deve seguir se mostrando bastante atraente, sem contar que o mercado acionário da mesma região também segue renovando suas máximas frente aos resultados surpreendentes das companhias de tecnologia que se mostram num processo de suporte para o aumento de produtividade dos mais variados segmentos dos Estados Unidos.

Para a Europa, por conta do êxito da redução da inflação, o ciclo de corte de juros se iniciou em junho, e é esperado que os resultados por uma maior flexibilidade monetária comecem a ser sentido pelos indicadores de confiança empresarial PMI, e por resultados trimestrais calculados pelo PIB regional.

Na China, apesar de uma baixa performance do setor pimobiliário desde a reabertura econômica, a gigante asiática demonstra interesse de, aos poucos, estimular o consumo dos agentes econômicos para que os dados de atividade econômica retomem os níveis da última década. Contudo, o mercado m especula a possibilidade de uma migração do modelo econômico m chinês do setor imobiliário para o setor de alta tecnologia, que é a pauta central das discussões de produtividade em 2024. Em síntese, com a finalidade de frear a deflação e religar os m motores para o motor imobiliário, novos cortes de juros são moderadamente esperados da autoridade monetária chinesa.

Já no cenário doméstico, as adversidades se tornaram um pouco mais complexas. O Brasil se encontra em uma batalha velada entre os interesses de crescimento econômico e fiscalmente expansionistas do m governo federal versus a moderação e preocupação com a dívida pública acompanhado do seu potencial inflacionário e nível de sustentabilidade no horizonte temporal por parte do Banco Central (BC) além de alguns membros da equipe econômica do governo.

O ciclo de corte de juros iniciado em agosto de 2023 com um ritmo de corte de 0,5% a cada de reunião foi freado para um corte de apenas 0,25% na reunião de maio e para uma manutenção do patamar de 10,50% na reunião de junho de 2024. Em ambos os comunicados pós reunião, ficou claro que a atual composição do Banco Central enxerga desafios no horizonte nos seguintes aspectos: (i) solavancos do processo desinflacionário americano, que posterga o ciclo de corte de juros americano; (ii) deterioração das projeções fiscais brasileiras; (iii) risco para a credibilidade do BC.

Portanto, fica evidente que para o BC, o horizonte está mais incerto, e para que mais reduções da Selic ocorram, as expectativas futuras estejam bem ancoradas. Portanto, uma taxa terminal de juros mais elevada é esperada, e que esta encerre o ano entre o patamar de 10% e 10,5%.

Dado todo este contexto, volatilidade entre as classes de ativos domésticas é esperado. A parte mais curta da curva de juros deve se beneficiar em detrimento de um juro mais elevado, inclusive o próprio CDI. No segmento de renda variável, uma taxa básica de juros maior implica em uma taxa de desconto mais elevada e maior dificuldade das empresas em competirem com o mencionado CDI.

Já o câmbio, com as incertezas domésticas de curto prazo, e o prêmio pago no exterior, deve seguir sensível ao estresse em ambos os mercados.

Porém, onde mora esse nível de incerteza, também mora oportunidade. É evidente que tanto nos cenários otimistas quanto pessimistas, há exageros por parte do mercado em ambos os sentidos, e, portanto, cabe ao investidor tomar as decisões da maneira mais sóbria e moderada possível. Num momento em que a renda fixa curta permanece atrativa, cabe alocação da mesma maneira da renda variável, que abre uma evidente janela de oportunidade de entrada. O melhor amigo do investidor de longo prazo, sabendo que na prática ninguém possui bola de cristal, é a diversificação.

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Por Henrique Cordeiro / Economista na Crédito e Mercado Consultoria

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