Gestor de recursos: o empreendedor fracassado?

04/10/2024 08:47:39

3 min e 5 segundos

Muito se fala sobre a atuação do Gestor de Recursos e seu principal objetivo dentro de um RPPS: alcançar a meta atuarial. A finalidade maior de um Gestor não é outra senão a de garantir os recursos atuarialmente de sua previdência. Mas afinal, a intenção é de somente chegar até a meta atuarial, ou de buscar ganhos maiores para rentabilizar mais a carteira de investimentos?

Acredito que todos nós tivemos alguma experiência na iniciativa privada, e nesse interim, faço um breve comparativo com o mundo corporativo: o empreendedor abre seu negócio, luta durante anos para ter as contas sob controle, passa a prosperar e fazer seu negócio crescer. Abre-se uma filial, ou um novo leque de serviços de seu negócio, e parte para novos voos. O empreendedor vai buscar a segurança de manter suas contas em dia, mas também passa a buscar novos ganhos. Quem acompanhou o podcast há alguns episódios, teve a oportunidade de conferir um CEO falando de um break-even point de 15 anos, e aí fica a pergunta se você conseguiria se manter resiliente em sua estratégia por tanto tempo para ter de volta tudo o que você investiu.

O Gestor de Recursos possui a tarefa inglória de ter de mostrar resultados apenas no calendário civil, algo que 10 entre 10 especialistas de mercado financeiro localizados nas diversas plataformas duvidosas sabem que não é o ideal. A gestão de recursos se dá ao longo do tempo, e não somente de janeiro à dezembro (ou não faria sentido algum investir em fundos com carência). Agora, fazer apenas aplicações no sentido de alcançar a meta atuarial no menor risco auferido no ALM é suficiente? Para que se tenha sucesso nisso, é preciso que todas as premissas se concretizem, então é bom acender uma vela para seu economista de confiança para que ele crave todos os palpites de um ano inteiro… se bem que não me recordo agora de nenhum economista chegar nem perto de uma Selic para o fim de 2024, então é bom confiar desconfiando!

Como ocorre em vários Entes, há risco de atraso no prefeito repassar os recursos ao RPPS, parcelar outras tantas parcelas, não observar as avaliações atuariais, fatos que apenas colaboram para que o Gestor de Recursos tenha dificuldades em manter uma estratégia de investimentos, e aí fica o dilema: tomar mais risco para compensar as intempéries ou procurar alcançar a meta deste ano e “o ano que vem a Deus pertence”? Não há uma resposta clara, pois há argumentos válidos para os dois lados.

Já se o gestor não vê estes riscos se tornarem uma realidade tão facilmente em seu Ente, você busca ser o que cumpre a cartilha do ano civil, ou busca tomar mais riscos como um empreendedor faria? Estamos preparados para assumir riscos, ou estamos preparados para justificar que somos avessos ao risco e que se não batermos meta é por culpa do mercado? Fica aqui a reflexão de como o Gestor de Recursos pode se comportar dentro de um RPPS: ou um empreendedor que busque um sucesso no longo prazo, mantendo a carteira resiliente às diversas variáveis que já temos de lidar no dia a dia, ou um empreendedor fracassado que murmure ao não conseguir seu principal objetivo de alcançar a meta atuarial.


Por Rafael Castro / Servidor Público e criador do podcast “Não é do INSS”

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